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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LUIS ADRIANO CARLOS

( Portugal )

 

Luís Adriano Carlos (N. 1959) é um poeta, ensaísta e professor português da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, cidade onde vive.

Obteve os graus de Licenciado, Mestre e Doutor em 1981, 1986 e 1993; e o título de Agregado em 2005. Iniciou a carreira académica em 1982, na mesma Faculdade. Ensina Literatura, Teoria Literária e Estéticas Literária e Comparada, suas principais áreas de investigação.

É autor das obras de poesia A Mecânica do Sexxo XX (Porto, AEFLUP, 1983), Invenção do Problema (Lisboa, Moraes Editores, 1986), Livro de Receitas (Porto, Campo das Letras, 2000), O Suicida Aprendiz (Porto, ASA, 2002), A Mecânica do Sexxo XXI (Famalicão, Quasi, 2003) e Torpor (Porto, Porto Editora, 2020).

Biografia: https://pt.wikipedia.org/

 

O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e brasileira.    Organização Victor Oliveira Mateus. Prefácio  Antônio Carlos Cortes.  Capa Julio Cunha.  Fafe: Amarante: Labirinto, 2010  207 p.      Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Depois da refeição, fitando um osso

Para José Emilio-Nelson

Toda a minha vida por um osso sé tudo que mereço.
Não é raro pensar que um osso qualquer tem sobre a vida mais alto preço,
e vendo bem nenhuma vida de ninguém, a não ser a tua, vale muito mais   
que a crua
e triste condição de osso depois da almoço, memória da carne picada no
estômago,
glória de uma vida rude que por um momento ilude o natural escárnio da
mortalidade.
A minha vida por um osso, a minha vida mortal a teus pés com a corda ao
pescoço,
a minha vida já muito madura mas oferecida ainda pura no estado gasoso.
Se ao menos ela fosse um destino de través, uma cabeça de menino que
crescesse.
dentro de minha esperança, cansada  de ser criança que sonha a gravidez
e não há meio de nascer por uma vez, como se em mim gemesse a dor
de uma mulher,
sem princípio nem fim ou de uma maneira qualquer, uma mulher de quem
não quero saber.
Se ao menos ela fosse a manhã, um cabelo frágil mas infinito e um novelo
de lã
que enrolasse à volta do osso os fios compridos do meu grito, se ela fosse
o que posso
fazer sim ninguém me esquecer, eventualmente alguém que todo mundo
quer,
incluindo a gente que porque me não convence me considera intransigente.
Se ao menos a minha vida fosse uma coisa doce, uma promessa precoce,
um osso
permitido à terra pelos cães que o cercam enquanto fito e medito, se ela
fosse menos isso,
ou até um pouco menos que isso, um cabelo postiço, um espinho de ouriço
e o contrário disso,
qualquer coisa que agitasse o torpor em que tudo em mim se perde como
um grande amor.
A minha vida pelo tu osso, pelo que tens dentro das entranhas e pelo
ordenado que ganhas
no difícil ofício de guardares esta velha entre as belas ovelhas do teu
rebanho,
oh não é raro pensar que o teu osso tem sobre minha vida mais alto
preço,
todo ele, o seu mundo esqueleto, é para mim a comovida promessa que
experimento,
todo ele me lembra agora a carne fresca de outrora que me alimenta a
fome canibalesca,
embora apenas no pensamento, de forma farta mas abstrata, portanto
sem real alimento.
Neste exacto momento estou saciado e feliz com o que comi do osso que
fito mas nada me diz,
aqui à frente do meu nariz, depois da refeição que te fiz, ainda com a
loiça por lavar e arrumar,
depois de tantos anos sé enganos pela vida for, esta mesma vida terrena
e terminal à beira-mar
que toco por um osso antigo animal, sinceramente arrependido do tempo
ido contigo
na tua partida imprevista vivida à minha vida, na tua memória vazia de
tão ilusória e fria.
A minha vida toda por um osso é tudo quanto mereço. Assim desligo de
mim e me despeço.

 

 

 

*

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Página publicada em fevereiro de 2022.


 

 

 
 
 
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